Eu abri os olhos e vi, a VIDA, a aura do mundo, e me tornei sensível
ao toque que cada umas delas, seja da vitamina D que o sol nos oferece ou na
ALEGRIA dos primeiros momentos que este brilhar tem a nós oferecer.
Me sinto como uma casa de campo destruída por um furacão, a
diferença é que esse furacão está apenas dentro de mim. O sofá está fora do
lugar e em uma posição estranha, o lustre de cristal se derrama pelo chão, os
pratos na cozinha espalham-se quebrados e no quarto a cama destruída, os
travesseiros rasgados, e penas estão pelo chão, quadros e fotos daqueles
momentos estão caídos ou tortos.
Na estante de livros perto da lareira que por muitas vezes
nós aqueceu só restam poeira e cinzas de madeira e livro, e no banheiro, no
fundo, no ultimo cômodo da casa, lá, naquele pequeno espaço está o meu “Eu”, adormecido
e entorpecido pela dor, o sangue nas mãos, agua, e mais sangue que fluía ainda
de meu peito, rasgado e escancarado; é estranho porque estou me vendo por fora,
estou morta.
Corro até lá, e ouço meu coração ainda bate mas muito fraco,
em minhas unhas há sangue e pele, e então me lembro, a noite passada foi
turbulenta como um avião sem piloto; o garoto estava aqui, e eu estava com
raiva, então tirei a minha roupa pra que ele pudesse ver as cicatrizes, as
marcas, mas pelo seus olhos isto só o excitava, tive que ser mais radical então
com o pouco de unha o pouco de força que meu corpo me oferecia depois dos dias
sem comer ou dormir direito, cravei-as em meu peito e comecei a rasgar, a
arrancar as cicatrizes, o sangue começava a jorrar, e agora o coração batia em
minha mãos, doía? Mas é claro, eu não queria que ele visse aquilo, não queria. Mas
era preciso, aquela era a minha última tentativa de tentar fazê-lo perceber,
entender como as coisas realmente me afetam.
Mas não saiu como eu imaginei, é claro que ele viu,
compreendeu, mas isto o assustou e aos poucos ele está cada vez mais longe de
mim, eu queria mudar isto, ir ao chão empoeirado em que ele está, limpar seu
lindo rosto, faze-lo abrir os olhos, e olhar para mim. Queria pegar suas mãos e
lhe devolver espada, elmo e escudo e dizer” – venha querido, vou te mostrar
como se curar, vou lhe mostrar o sol, vou lhe mostrar a felicidade e as novas e
certas batalhas a se lutar e os motivos por isto” mas além de eu não estar
curada e forte nem mesmo pra me levantar, o garoto não quer aquilo pra ele, não
quer ter aquelas cenas em sua cabeça, por mais que sua boca não pronuncie isto,
eu posso ver, posso sentir, ele não está mais aqui, e posso sentir o desespero
tomando conta de mim, e tudo aconteceu tão rápido, que não mais que alguns
minutos foram suficientes para destruir a casa.
Eu estou de volta, meu peito arde, mas nada que algumas
gotas de aguá corrente não resolvam, a aguá, é ela me cura, ela me fortalece;
em frente aos espelho, posso ver aos poucos as cicatrizes se formando
novamente, vejo também cada gota escorrendo pelo meu corpo, “EU”, a casa,
estamos totalmente frágeis e doloridos no momento, estou pensando em concertar
tudo, colocar as coisas no lugar, mas o sol está nascendo e ele está tão lindo
pela janela do banheiro que quero vê-lo melhor, e ao sair para fora, ao olhar
para casa do lado de fora, sinto uma paz, por que é isso que a casa passa, ninguém
que a vê de fora imagina como seu interior está.
Eu esta nua, e o orvalho dessa manhã de verão a arrepia,
mas ela não esta com vergonha, EU quer ficar assim, nua, quer que as pessoas
vejam o que o” EU” é. Eu tenho que
concertar as coisas, mas não agora, não sozinha assim, porque no momento estou
quebrando as regras, estou indo fazer as pessoas verem o meu “EU”. Mas e o
garoto? Ele sabe o caminho de volta. E a porta estará aberta? É claro que não, não
quero que ela seja roubada, mas ele ira bater, e eu vou deixa-lo entrar, quem
sabe não tomamos um café e então o “eu” lhe faça novamente a proposta, a nossa
proposta. Porque eu sou a casa agora, e o meu “eu” abita aqui, e o meu “eu” por
mais gentil que seja, tem seus próprios princípios e amores,mas ainda assim ela sabe que não pode tomar essa decisão sozinha ou forçar o sentir. O meu “eu” pode fazê-lo
feliz, mas enquanto o orgulho, o preconceito e a cegueira existir, as coisas não
serão fáceis pra nós. No fundo eu queria controlar o “eu” mas o “eu” ama sem
pedir permissão ou opinião. Eu gosto disso, afinal, o amor pode fazer muitas
coisas, mas a melhor delas é a felicidade. E nós a queremos.
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